Saiba tudo o que rolou no Prêmio Educador Nota 10 – 2018

Votação popular pela internet e a primeira participação da Varkey Foundation, criadora do prêmio internacional Global Teacher Prize, reforçam a relevância do Prêmio Educador Nota 10

A cerimônia da 21ª edição do Prêmio Educador Nota 10 aconteceu no primeiro dia de outubro na Sala São Paulo e consagrou José Marcos Couto Jr., do Rio de Janeiro (RJ), como o Educador do Ano. O professor de História de 8º e 9º ano da Escola Municipal Áttila Nunes, em Realengo, trabalhou a inserção do negro na sociedade e a ideia de invisibilidade social. O projeto “As Caravanas: limites da visibilidade” utilizou a música homônima de Chico Buarque e levou as turmas para conhecer outros territórios e culturas, além de contribuir para que desenvolvessem a escrita e a autoestima antes de ingressar no Ensino Médio.

Para selar o primeiro ano de parceria da fundação que organiza o Global Teacher Prize com a Fundação Victor Civita, realizadora do Educador Nota 10, uma representante da Varkey Foundation, Tania Andrea Gil, se juntou a Academia de Jurados, composta por outros cinco especialistas: Ana Inoue, diretora do Centro de Estudar Acaia Sagarana /Instituto Acaia; Anna Helena Altenfelder, superintendente Cenpec – Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária; Ítalo Dutra, chefe de Educação da Unicef Brasil; Lino de Macedo, professor titular do Instituto de Psicologia (USP) e Rodrigo Mendes, diretor Executivo do Instituto Rodrigo Mendes.

Antes da escolha final do júri, anunciada durante a cerimônia, os dez premiados foram selecionados por uma equipe de especialistas em suas áreas, que analisaram mais de 4000 mil projetos inscritos. Ao ter seu projeto eleito pela votação popular #Esseprojetoé10, realizada pela primeira vez no site da Fundação Victor Civita, a professora de Matemática Ivonete Dezinho, de Naviraí (MS), se sentiu duplamente homenageada. O vídeo sobre “De pai para filho – uma abordagem do ensino da matemática nas profissões” conquistou os internautas e obteve quase 25% dos votos.

Um texto de autoria coletiva dos professores foi lido pelo educador do ano: “Que poder tem uma voz? Uma voz tem o poder de mudar uma realidade. E se fossem dez vozes? Dez vozes que se levantam para falar a mesma língua e cantar a beleza da diversidade. Vozes que, em uníssono, lançam luz sobre as sombras do preconceito e da invisibilidade. (…) Somos dez vozes, mas hoje somos uma, representando os milhares de educadores deste Brasil. E que esta voz nunca se cale.” Ao final do evento, os apresentadores Sandra Annenberg – mestre de cerimônias pelo quinto ano consecutivo – e Otaviano Costa viram o Ministro da Educação, Rossieli Soares da Silva, subir ao palco para anunciar a condecoração dos dez vencedores com a Ordem Nacional do Mérito Educativo, medalha mais importante da Educação no Brasil (que foi entregue posteriormente em Brasília). Conheça os detalhes sobre os projetos vencedores nos resumos e vídeos abaixo.


>> Acreditamos na valorização do Professor para transformar a Educação Básica (2018)

A Fundação Victor Civita acredita que o Professor é um ator fundamental na melhoria da qualidade da Educação Básica brasileira. Ele – ou ela – tem a oportunidade e o desafio de influenciar positivamente a vida de seus alunos, apesar de todas as dificuldades. Leia mais.


Veja como foi a 21ª Edição do Prêmio Educador Nota 10

Vencedores do Prêmio Educador Nota 10 2018

[Conheça os 10 vencedores de 2018]

 

Ana Cláudia Santos

Língua Portuguesa – Ensino Médio
Escola Estadual Padre Paulo
Ensino Médio
Santo Antônio do Monte / MG

“Precisei passar pelo crivo do uso das atuais mídias digitais e incorporá-las a meu trabalho. Para mim, foi um dos trabalhos
mais enriquecedores. Guimarães não será mais o mesmo.”

Guimarães Rosa é considerado por muitos um escritor que escreve “textos difíceis de ler”. Mas Ana Cláudia criou uma sequência didática para alunos de 3º ano do ensino médio que derruba essa crença. Ela não só despertou nos alunos o gosto por ler e interpretar os contos do autor mineiro, como também acompanhou a turma na descoberta do potencial transformador e humanizador que a literatura tem. Os jovens estudaram os aspectos estilísticos dos textos roseanos, criaram produções orais, refletiram sobre a relação entre a obra e a realidade e trabalharam com stop motion. O impacto do projeto fica evidente nas cartas que a turma foi desafiada a escrever para Guimarães, tal co o escritor Manuel Bandeira o fez.


 

 

 

Ana Paula Mello

Geografia – Fundamental II
Escola Municipal Levi Carneiro

Ensino Fundamental II
Niterói / RJ

“Trabalhar Educação Patrimonial ajuda a fortalecer a relação dos jovens com os bens culturais e naturais, sensibilizando-os sobre a sua responsabilidade na valorização e preservação do patrimônio.”

Ana Paula conseguiu fortalecer a relação dos estudantes de 6º e 7º ano, por meio do trabalho de educação patrimonial, com os bens culturais e naturais de Niterói. Em um julgamento prévio, eles disseram que não havia nada a se conhecer no município. Percebendo que seus alunos, apesar de frequentarem a praia de Itaipu, nunca tinham notado a existência de sambaquis, desenvolveu uma sequência didática para contemplar essa situação geográfica e despertá-los para questões ambientais. Desenhos, registros de imagens, oficinas de Arqueologia e uma saída de campo ao Museu de Itaipu contribuíram para entender o valor do patrimônio, da paisagem e do lugar. Craque na escuta atenta dos alunos, a professora transformou várias sugestões dadas por eles em atividades, como a montagem de uma horta no pátio da escola, e organizou visitas a outros espaços relevantes do município, como o Museu de Arte Contemporânea de Niterói e o Museu Janete Costa de Arte Popular.


 

 

Cristiane Dias

Língua Estrangeira – Fundamental II
EEB Maria José Hulse Peixoto
Ensino Fundamental II
Criciúma / SC

“Cumpri o objetivo de tornar aluno cada vez mais proficiente em inglês, e, ao mesmo tempo, espero ter plantado a semente da tolerância, do respeito e da diversidade.”

A professora Cristiane dribla a ideia de que não se aprende inglês na escola pública. Ela aproveitou a presença de imigrantes ganeses e haitianos na cidade, que tentam se comunicar em inglês, para discutir os antepassados imigrantes dos alunos do 9º ano e a situação de brasileiros que vão trabalhar em outros países, tornando-se estrangeiros. Com isso, mostrou a importância de ter uma língua em comum, trazendo para a aula conteúdos importantes para que as crianças pudessem conversar, pedir ou dar informações a quem precisasse, como a nomenclatura de lugares e as instruções para chegar até eles. Os alunos escreveram diálogos e gravaram suas produções em áudio ou com ajuda de dois aplicativos (Dialoog e Voki) que permitem criar avatares que ‘falam’ o texto digitado com diferentes sotaques. Dessa forma, a professora trabalhou a língua estrangeira dentro das possibilidades dos jovens e sensibilizou-os para temas como empatia, respeito e diversidade.


 

 

Elenir Novaes

Matemática – Fundamental I
Escola Municipal Campos do Amaral
Ensino Fundamental I
São Sebastião do Paraíso / MG

“Assumi um compromisso e dediquei tempo à minha própria formação para ter condições de atuar eficazmente no processo de aprendizagem dos meus alunos.”

No início do ano letivo, Elenir achava difícil imaginar seus alunos do 3º ano resolvendo contas de cabeça. Eles não abriam mão da conta armada e se confundiam durante o processo de resolução. Além disso, mesmo alcançando resultados sem sentido, não percebiam seus erros: estavam presos a um fazer mecânico. Diante desse cenário, a professora resolveu trabalhou propriedades das operações e regularidades do sistema de numeração decimal, dando voz às crianças para que explicassem o que haviam pensado para alcançar o resultado. Elenir também trabalhou com a memorização de resultados. Dessa maneira, a turma passou a confiar mais nas próprias possibilidades de resolução e passou a resolver as propostas de forma que compreendesse o que estava fazendo. Agora, todos lançam mão de outras estratégias, como a decomposição e a sobrecontagem.


 

 

Ivonete Dezinho

Matemática – Fundamental II
EMEF Professor Milton Dias Porto
Ensino Fundamental II
Navirai / MS

“O projeto valorizou o conhecimento dos pais, que foi fundamental para auxiliar nas dificuldades dos filhos. Trocamos ideias, valores, saberes, desmistificando assim o “fantasma” que a matemática é para poucos.”

A Matemática está presente na vida cotidiana e os alunos do 8º ano começaram a se dar conta disso quando pesquisaram como essa ciência aparece no exercício de profissões de garçom, padeiro, astronauta, médico pediatra, arquiteto e chefe de cozinha. Até então, a disciplina era alvo de rejeição da turma. Orientados por Ivonete, os estudantes também conversaram com familiares sobre como eles lidam com números no dia a dia. Descobriram que seus pais e avós têm estratégias de cálculos próprias e interessantes e que unidades de medida, juros, porcentagem, orçamento doméstico, perímetro e área, dentre outros temas, são conhecimentos importantes e, mais do que isso, possíveis de serem aprendidos na escola.


 

 

José Marcos Couto Junior [Educador do Ano]

História – Fundamental II
Escola Municipal Áttila Nunes
Ensino Fundamental II
Rio de Janeiro / RJ

“O objetivo do projeto foi mostrar às crianças que alguns setores da sociedade não as enxergam e estimulá-las a vencer isso. E elas foram se inserindo cada vez mais em mundos que antes diziam não lhes pertencer.”

A música As Caravanas, de Chico Buarque, fala sobre como moradores do subúrbio e de comunidades são vistos na Zona Sul do Rio de Janeiro. Ao ouvir a letra, José Marcos a julgou perfeita para dar continuidade a um projeto de 2017 sobre a questão da inserção do negro na sociedade e a ideia de invisibilidade social. Em 2018, o trabalho teve dois objetivos: ampliar o mundo dos alunos do 8º e 9º ano, levando-os a conhecer outros territórios e culturas, e contribuir para que desenvolvessem a escrita e a autoestima antes de ingressar no Ensino Médio. Canções de Chico, como Construção, Geni e o Zepelim, Ópera do Malandro, e de outros compositores geraram debates e produções textuais em que os estudantes criaram seguindo a mesma estrutura das letras das músicas estudadas. Também reescreveram a Lei Áurea imaginando como deveria ser a integração de ex-escravos. Saídas para o teatro e para o Centro Cultural Banco do Brasil levaram os jovens a espaços nunca antes visitados. Para valorizar seus textos de autoria, eles foram reunidos no livro Que sejam lidos, que sejam vistos.


 

 

Marcos Neves

Educação Física – Fundamental I – EJA
CIEJA Campo Limpo
Ensino Fundamental I
São Paulo / SP

“A sugestão de uma aluna, que tinha na família brincantes de maracatu, me fez ler muito para entender sobre essa manifestação cultural e aprender a prática corporal antes de iniciar a tematização na escola.”

Por sugestão de uma estudante, o professor Marcos Ribeiro das Neves resolveu se aprofundar sobre o Maracatu, e, com isso, precisou desconstruir algumas narrativas preconceituosas que emergiam dos próprios alunos da EJA – Educação de Jovens e Adultos. Aos poucos, com ajuda de discussões, pesquisas, vivências e trabalhos, os alunos conheceram o contexto social e histórico da escravidão e desta manifestação cultural folclórica afro-brasileira, ampliando e ressignificando os saberes. Como finalização do trabalho, tiveram que preparar coletivamente um cortejo para a abertura de um seminário étnico municipal.


 

 

Marinaldo Sarmento

Língua Portuguesa – Alfabetização – Fundamental I
E.M. de Ensino Infantil e Fundamental Jupariquara
Ensino Fundamental I Alfabetização
Barcarena / PA

“Como educador, tenho a consciência de que é minha a função de preparar para uma sociedade letrada, cidadãos críticos, ativos e pensantes sobre o seu papel independentemente do meio em que estão inseridos.”

Em uma escola ribeirinha a duas horas de barco da cidade de Barcarena, o professor Marinaldo planejou com muita consistência uma sequência de trabalho sobre fábulas para seus alunos de 4 a 11 anos de sua turma multisseriada. Ele valorizou a diversidade e lançou mão de estratégias fundamentais, como os grupos produtivos, para garantir a participação de todos. Em uma variedade de situações apresentadas de forma cuidadosa a seu grupo o professor garantiu que todos se aproximassem do gênero estudado dentro de suas possibilidades, dando espaço para pensar sobre os animais das fábulas e os animais da região, por exemplo, mas também com situações de alfabetização de acordo com as hipóteses de escrita do grupo. Os textos finais foram produzidos coletivamente nos quais os alunos mais novos atuavam como ditantes e um aluno mais velho atuava como escriba, intercalando estes momentos com retomadas coletivas, garantindo uma elaboração de todo o grupo.


 

 

Mauro Rosa

Arte – Fundamental II – EJA
EMEB Isidoro Battistin
Ensino Fundamental II
EJA

“Os estudantes escolheram o teatro de sombras para colocar luz aos olhos dos espectadores, fazendo-os refletir sobre questões ligadas ao racismo, machismo, homofobia e o preconceito contra presidiários e ex-presidiários.”

A arte como linguagem só tem significado e ganha expressão se o assunto tratado faz sentido para quem a produz. O professor Mauro conduziu sua turma de Educação de Jovens e Adultos (EJA) a um mergulho por um tema desafiador e delicado: o preconceito. Os estudantes levantaram perguntas segundo suas vivências pessoais, retomadas ao longo do percurso. Depois de conversas e pesquisas com professores de diferentes disciplinas, a turma decidiu fazer uma representação dramática elaborando um teatro de sombras. O objetivo era colocar luz aos olhos dos espectadores a questões ligadas ao racismo, machismo, homofobia e exclusão de presidiários e ex-presidiários. Organizados em grupos, pesquisaram imagens, textos e músicas com carga simbólica para compor as cenas e se dedicaram aos ensaios. O teatro de sombras, apresentado a estudantes e professores, estimulou a comunidade escolar a refletir e debater, além de empoderar os estudantes, que agora têm força para se colocar diante dos preconceitos que os atingem.


 

 

Mikael Miziescki

Arte – Fundamental II
EMEF Prefeito Dário Crepaldi
Ensino Fundamental II
Morro Grande / SC

“Creio na capacidade de mudança que os nossos alunos nos propõem e que experienciar os conteúdos, as técnicas, as reflexões, os conhecimentos, enfim, a arte, é o melhor caminho para a construção de uma educação de qualidade.”

Para que seus alunos – que vivem em um município com 3 mil habitantes e são filhos e filhas de agricultores – desconstruam os estereótipos que têm sobre a disciplina Artes, o educador os instiga e provoca. Eles estudam história da arte e a produção de artistas catarinenses e contemporâneos brasileiros e as vanguardas modernas; pesquisam e debatem; visitam exposições e escrevem sobre seus próprios trabalhos, o que torna os torna críticos e conscientes em relação a sua prática artística. O projeto é inovador, pois coloca em foco os espaços expositivos e a curadoria, que são tratados como conteúdo. Desde o início do ano os estudantes sabem que seus trabalhos serão expostos, então se engajam em pesquisas sobre arte e experimentam com técnicas e linguagens ao elaborar suas criações. Na última exposição Morro grande em Arte, organizada pelo docente e seus alunos no final de 2017, eles mostraram seus trabalhos ao lado de obras de artistas da região, levando mais de 700 pessoas ao evento, o único acontecimento cultural da cidade.


 

 

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